Balé clássico para adultos: desafios e possibilidades
  • Laurinha Marinho | FOTO: Divulgação
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  • Turma de balé adulto | FOTO: Fernando Azevedo
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  • Talita Sena | FOTO: Diuvlgação
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  • Venícius Passos | FOTO: Renan Maia
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  • Rogério Ramos | FOTO: Divulgação
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Professores de dança e alunos comentam sobre os benefícios e desafios da modalidade na vida adulta

Quem disse que balé é atividade só para crianças? O aumento do número de escolas no Recife que oferecem turmas exclusivas de balé clássico para adultos é um dos indícios de que é possível praticar a modalidade em todas as idades.

Seja pelo fato de acompanhar o filho, por realização pessoal ou pela prática de um exercício físico, muitos adultos estão ingressando balé ou resgatando essa paixão deixada para trás devido a rotina geralmente corrida da vida adulta.

O Núcleo de Danças Venícius Passos (NDVP), em Boa Viagem (Recife), oferece aula de balé clássico para adultos há 9 anos. “A cada ano o interesse e demanda vem aumentando consideravelmente. A procura é muito positiva”, afirma Venícius Passos, diretor e professor da escola.

Sobre o perfil desses alunos, Venícius relata que, na sua maioria, são mulheres a partir de 20 anos de idade, sem idade limite. “Temos mulheres adultas de até 65 anos, por exemplo, que iniciaram o balé aos 40 anos, mães, profissionais ativas, donas de casa, casadas”.

Foi nessa faixa etária de 20 anos que Luana Gabriela começou a fazer balé clássico. Hoje, com 25 anos, ela tem aulas na Escola de Formação em Dança Allegro, em Olinda. “Comecei a fazer balé clássico inicialmente a convite de uma amiga e também por condicionamento físico, pois sentia dores nas pernas na qual nunca passava”.

“Além disso, me interessei para ganhar técnica porque dançava na igreja. Assim que comecei, me apaixonei e nunca dancei outro tipo de ritmo”, conta Luana. A procura pelo balé já na fase adulta é feita por diferentes motivos. O professor de balé Rogério Ramos dá aula para adultos no Allegro Ballet desde 2015 e também no Espaço Excelsior E.D.

Ele revela as principais razões que fizeram com que suas alunas procurassem as aulas. “Há muitos motivos que fazem uma pessoa adulta fazer aula de balé. Os principais são um sonho de infância não realizado, a volta de uma atividade abandonada devido a chegada das responsabilidades da vida adulta e a busca por uma atividade física que seja menos repetitiva e maçante, que possibilite ouvir uma boa música e sentir o prazer artístico de dançar”.

Ainda sobre os motivos, Venícius Passos complementa. “Vejo que, na maioria dos casos, os adultos procuram o balé clássico como primeira opção de atividade física por uma questão de realização pessoal, ou seja, sempre tiveram o sonho de dançar e fazer aula de balé clássico, mas por algum motivo não tiveram oportunidade quando mais novas”.

Além disso, mães que iniciam a modalidade após o ingresso do filho é muito comum. “Também temos esse exemplo no NDVP. Mãe e filha iniciaram as aulas juntas, participam dos nossos espetáculos e eventos juntas, motivam uma a outra”

“E acabam compartilhando mais tempo do dia juntas, proporcionando uma relação ainda mais íntima e possibilitando a compreensão mais clara da mãe no que diz respeito aos desafios, possibilidades e oportunidades da filha no cenário da dança”, afirma Venícius.

Foi justamente o ingresso da filha nas aulas de balé que fez com que Talita Senna voltasse a praticar dança no Núcleo de Danças Venícius Passos. Ela conta toda sua trajetória no mundo do balé: “nunca fiz aula de nenhum outro ritmo, sempre gostei de dançar de uma forma geral, mas o balé sempre foi um desejo de criança”.

“Não só pela figura estereotipada da bailarina, mas pela junção de coisas que me atraia: alongamento, flexibilidade, dança e espetáculo. Admirava muito a ginástica artística e olímpica”, diz Talita.

Então, ela resolveu voltar ao clássico aos 18 anos. Primeiro, por ter uma academia próximo ao trabalho e estágio. Depois, porque queria se comprometer com uma atividade física. “Sempre fugi da academia e musculação por sempre encarar como obrigação”.

Após quase dois anos, precisou se dedicar a carreira profissional e os horários não foram mais compatíveis. “Aos 30 anos, minha filha mais velha, hoje com 5 anos e meio, entrou na escola. A professora dela foi uma grande incentivadora para que eu voltasse. Ela que quebrou todos os meus paradigmas de que ‘não tinha mais idade’, ‘meu corpo jamais corresponderia’, ‘não dá para recomeçar depois de muito tempo parada’”.

Há também aqueles casos em que o balé sempre esteve na vida da pessoa, sem interrupções. Um exemplo é o da influenciadora digital e fashion designer Laurinha Marinho. Desde os 2 anos e meio, a Laurinha, como é conhecida, pratica balé. Hoje, com 32 anos, dança na escola Lúcia Helena D’Angelo, nas Graças (Recife).

“Cresci dentro do balé clássico e nunca senti vontade de parar. Já fiz vários ritmos simultaneamente com o balé, como dança contemporânea, sapateado, dança popular, zumba, mas nunca gostei muito de nenhum, só do balé”, relata. E a paixão pelo balé clássico está passando de gerações. Aurora, filha de Laura, também faz balé desde novinha, tendo começado aos 2 anos de idade.

DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS ADULTOS

A dança é para todos, sem restrição. Segundo os professores, para aqueles que pensam em fazer balé clássico, o mais importante é ser bem orientado, conhecer o profissional e o trabalho desenvolvido na academia que irá ingressar.

Sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que dançam balé na vida adulta, Laurinha relata. “Minha dificuldade é meu biotipo que atrapalha meu desempenho. Anatomia de uma bailarina clássica precisa ser leve e esguia”.

“Não sou assim, mas também não levo o balé clássico como atividade profissional e nem almejo dançar fora do país. Mas sou formada no clássico e sou professora de balé para crianças, mas não exerço mais essa função. Só pratico”, conta Laurinha.

As dificuldades físicas existem, mas se engana quem pensa que essas são as principais limitações. Os professores são unânimes em afirmar que a autoaceitação e autoestima são os fatores mais relevantes.

“Sobre as dificuldades, acredito que seja mais no âmbito emocional, porque existem os desafios de autoaceitação, paradigmas falsos como que ‘balé é só para criança’ e além das vivências posturais já adotadas pelas praticantes”, pontua o professor de dança Rogério Ramos.

Foi justamente esse ponto que foi relatado pela aluna de balé clássico Talita Senna. “Por incrível que pareça, minha maior dificuldade no início não foi a técnica, não foram os passos ou o corpo ‘entrevado’, mas a aceitação. A autoaceitação, que eu poderia sim voltar a usar meia calça e sapatilha”.

Completa: “que estaria ali me desenvolvendo ao lado de adolescentes e adultos já em níveis bem mais avançados que o meu. E nesse ponto, só consegui superar com tranquilidade porque o Núcleo de Dança Venícius Passos me acolheu muito bem”, afirma Talita.

“Quanto ao corpo, ele tem memória, mas ainda encontro barreiras quanto ao ‘me permitir’, fazer uma pirueta desengonçada, mas fazer, saltar desajeitado, mas ir até o final, deixar que minha cabeça e braços sigam em sintonia com os passos dados nas aulas sem me sentir bailarina demais”, diz a aluna de balé.

OS BENEFÍCIOS

Como toda atividade física, o balé proporciona benefícios para o corpo de quem pratica, como condicionamento físico, flexibilidade, fortalecimento muscular, coordenação motora, entre outros. Mas muito além disso, a mente é umas das principais favorecidas.

“A dança, além de atividade física, também é terapia uma vez que a atividade realizada libera hormônios responsáveis pelo prazer e felicidade como endorfina, ocitocina, dopamina e serotonina. Assim, o balé clássico proporciona sociabilidade, já que é uma atividade feita em grupo”, afirma o professor de dança Venícius Passos.

A dança proporciona também força, flexibidade e resistência, o que possibilita um corpo mais em forma. “Desta forma, estamos falando de uma modalidade que atua diretamente na saúde e bem estar, gerando qualidade de vida no aspecto físico, emocional e mental”, explica o professor.

Além disso, ela desenvolve positivamente o senso cognitivo e de concentração do indivíduo, resultando numa maior e melhor produtividade no ambiente da dança, pessoal e profissional. “Já foi comprovado cientificamente que pessoas que fazem balé clássico têm maiores resultados pessoais e profissionais”, afirma Venícius.

Mas para encarar o balé clássico na vida adulta, assim como em qualquer idade, é preciso ter disciplina. “Diria que é cansativo conciliar perante nossos deveres diários, mas para mim, os dias de aulas são sagrados. No início achei que seria muito cansativo, mas elas se tornaram meu momento onde eu me desligo da minha rotina e me acalmo nos dias de estresse”, conta Luana Gabriela, que também faz aulas de balé clássico.

FLEXIBILIDADE E USO DA SAPATILHA DE PONTA

A flexibilidade é um fator importante para quem dança balé clássico. Muitos dizem que de acordo com os anos essa habilidade é perdida ou diminuída significativamente, mas o professor Rogério Ramos refuta essa afirmação.

“Falando sobre a capacidade física da flexibilidade, que gera abertura, perna alta, etc., estudos indicam que os limites são predeterminados geneticamente, mas a atividade pode influenciar no desenvolvimento. O que gera esse mito é porque há um declínio natural das estruturas de músculo, esquelética e fisiológicas”.

Mas, segundo o professor de dança, a falta de atividade física e fatores genéticos influenciam muito mais. “Pela minha experiência, percebo que os limites são alcançados com mais dificuldade, mas com muito mais qualidade. O balé é muito mais que uma abertura ou perna alta”, lembra Rogério.

De acordo com o professor, a compreensão do lado artístico, quando trabalhado, enriquece muito mais a cena. “Uma boa metodologia de ensino vai trabalhar de modo eficiente tanto o físico quanto o artístico, sendo a flexibilidade um fator importante a ser desenvolvido”, explica.

Um outro ponto abordado por quem faz balé na fase adulta é o uso da sapatilha de ponta, tão significativa para as bailarinas. Por um lado, na criança há aquele risco de usar sapatilha de ponta porque o pé ainda está em formação.

Já o pé do adulto estaria mais estruturado, mas, ao mesmo tempo, não acostumado ainda com esse acessório. “Sobre as pontas é verdade que o pé do adulto já tem o desenvolvimento necessário para usar. O adulto consegue sim usar sapatilha de ponta, tenho algumas alunas que já usam, tanto iniciantes como iniciadas”, pondera Rogério.

O que vai determinar o tempo para colocar ponta é desenvolvimento técnico do aluno e seu empenho em sala de aula. “Com um bom trabalho, frequência nas aulas e atenção as orientações do professor, com cerca de dois anos o adulto já pode colocar a tão sonhada sapatilha de ponta”, afirma o professor de dança Rogério Ramos.

DIFERENÇAS ENTRE O ENSINO DE BALÉ PARA CRIANÇAS E ADULTOS

Nas aulas de balé, de acordo com a faixa etária e níveis, algumas técnicas são diferenciadas entre as turmas. Em uma aula de balé clássico para crianças e outra para adultos a grande diferença é a didática utilizada. “O conteúdo e objetivo principal, que é o ensino da dança clássica e formação do bailarino são aspectos inegociáveis e de extrema importância, mas a didática a qual será aplicada para os públicos deve ser específica e apropriada”, afirma o professor Venícius Passos.

O lado lúdico é enfatizado pelo professor Rogério Ramos. “Em questão de técnica é igual. Tendu, plié e jeté são sempre os mesmos. Há cinco anos também estou ensinando o público infantil. As facilidades de aprendizado são diferentes. Enquanto as crianças têm uma melhor memória e energia para dançar, a turma adulta tem mais capacidade de compreender o movimento e abstrair conceitos como emoções e lições de vida”.

Na aula para infantil, o lado lúdico no ensino é mais ressaltado e o estudo técnico tem que ser mais lento, pois a criança ainda não tem seu pleno desenvolvimento físico. “Na turma adulta há um maior foco na atividade e o trabalho técnico é mais eficiente. Não que se perca por completo a ludicidade, pois muitos dos adultos também procuram pelo prazer de dançar”, explica Rogério.

RELATOS E ENCORAJAMENTO

Sabe aquela primeira frase da matéria? Sim, ainda hoje muitas pessoas acham que balé é atividade somente para crianças, mas conversando com as nossas personagens da matéria, adultas e alunas de balé clássico, a realidade é totalmente diferente. Elas não só frequentam regularmente as aulas, como amam o que fazem. Além disso, encorajam outras pessoas a fazerem o mesmo e descobrirem o prazer e paixão pelo balé. Destacamos o depoimento de cada uma delas abaixo. Para você que está pensando em fazer balé, mas acha que não tem mais idade, vale a leitura. 😉

Laurinha Marinho, 32 anos
Diria que balé não tem idade para começar, isso é lenda. Principalmente, diria que ser livre para fazer o que tem vontade é o melhor exercício de auto conhecimento. Experimentar coisas novas e realizar desejos antigos são coisas que contribuem para nossa felicidade plena. Meu conselho: tenham coragem e busquem sua independência psicológica. Façam e sejam o que vocês quiserem sem se preocupar com o que vão dizer ou pensar. No final o que vale mesmo é ser feliz.

Luana Gabriela, 25 anos
As aulas me proporcionaram mais resistência tanto muscular como também emocional. Me ensinaram que eu posso melhorar a cada dia, que é melhor persistir do que desistir e que mesmo com todas as dificuldades, cada progresso é sinônimo de “vai lá, você consegue”. Aos adultos que tem vontade de iniciar, diria que apenas “Comece”. Cada um tem seu tempo e seu ritmo, independentemente da idade. Não é a idade que vai definir o que você pode ser ou fazer e sim sua determinação.

Talita Sena, 33 anos
Impressionante como é o que mais escuto: “Que máximo, também queria voltar…”. “Nossa, que sonho! Também queria”. Se animam, chegam a pedir o contato da escola, mas não levam adiante justamente por acharem que não tem mais idade para isso. Recorrem ao pilates e a yoga como uma tentativa de ter princípios corporais parecidos, mas serem mais adequados a idade, ou partem para a zumba ou fitdance como sendo mais aceitável.

O que eu digo para essas pessoas é: comece! Vá com a roupa da academia, se preferir vá direto da academia! Para ser bailarina não precisa estar de tutu, sapatilha de ponta de coque com gel. Procure uma escola séria, que saberá trabalhar seu desenvolvimento propondo desafios que você poderá corresponder sem se sentir ridícula.

E sem dúvida nenhuma: confie no seu professor. Quando comecei as aulas com Venícius, era meio do ano, e com três meses de aula começaram os ensaios do espetáculo de final de ano. Eu não tinha a menor pretensão de participar, e quando ele falou sobre a minha participação, me disse: você consegue, confie em mim! E sabe o que dancei?

Nada mais nada menos que uma coreografia de Rei Leão, um musical consagrado na Broadway, na abertura do espetáculo que foi uma das coreografias mais aplaudidas na noite. Agora, me pergunta se eu tive dúvidas se dançaria no ano seguinte? Estar com os profissionais certos, com as orientações corretas e de quebra em um ambiente que te faz sentir em casa, é sim um diferencial para quem quer começar.

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Texto: Fabiana Almeida
Edição: Maíra Passos
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Fabiana Almeida

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